quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A evolução do papel masculino nas famílias na Europa

Homens e famílias
A evolução do papel masculino nas famílias na Europa
SÍNTESE E RECOMENDAÇÕES DO PROJECTO
DEZEMBRO 2006

Download: http://coface-eu.org/en/upload/docs/PERES/brochurePT.pdf


Alguns excertos:

2. ALGUNS RESULTADOS SIGNIFICATIVOS
Os inquéritos efectuados pelas sete associações que
participam na pesquisa tinham como objectivo primordial
entender melhor as atitudes dos homens face
ao seu papel na família. Nesta medida, estarão eles
preparados para tomar parte nas responsabilidades
familiares, seja no que toca aos seus filhos (Bélgica,
Chipre, França, Finlândia), aos seus pais idosos
(França, Grécia) e a conjugá-las com as obrigações
profissionais (reais ou observadas)? Em que medida
estão preparados a estarem mais presentes na vida
familiar em caso de deficiência ou de doença grave
duma criança (Itália, Portugal)? Como poderão fazer
face às responsabilidades com as crianças em caso
de guarda alternada após um divórcio ou a ruptura
de uma união (Bélgica), tendo em conta que uma investigação
recente, na Bélgica, mostrou que o efeito
negativo da responsabilização paternal no desenvolvimento
da carreira ainda é mais perceptível nos
homens do que nas mulheres?
A renovação da figura do pai aparece como o factor
mais determinante da mudança de mentalidades
necessária para a evolução dos papéis masculino e
feminino no seio da família. É a primeira constatação
que se pode inferir das respostas obtidas às duas
questões comuns aos sete inquéritos; a primeira questão
era sobre o que era necessário para que os homens
partilhassem as responsabilidades familiares no
quotidiano e a outra sobre as políticas a implementar
para melhorar essa participação. Nada na formulação
destas duas questões orientava, duma maneira
ou doutra, as respostas em relação à participação do
homem enquanto pai na vida familiar. No entanto,
todas as respostas se concentraram no papel que o
homem deve cumprir enquanto educador e protector
das crianças, mesmo que em dois casos o objecto
do inquérito relacionava-se exclusivamente no papel
que ele tem ou poderia ter em relação aos fi lhos, mas
também em relação aos pais idosos.
A focalização das respostas no papel do pai no que
toca aos seus filhos é indicativo da implantação
geral do modelo de família nuclear, que reagrupa e
se limita aos pais e às crianças, nas representações
colectivas. Para além disso, tal focalização sublinha
que a mudança na distribuição dos papéis familiares
entre a mulher e o homem deve produzir-se, em
primeiro lugar, no seio deste modelo, se quisermos
que a mudança se venha a implantar e a normalizar.
Tudo leva a pensar que a ruptura da ligação exclusiva
estabelecida entre o papel de protector e a figura
maternal através da associação deste papel à figura
paternal será suficiente para modificar as atitudes e
os comportamentos no que toca à responsabilização
dos homens pelos pais idosos e, em geral, de todos os
membros da família que sejam dependentes.
Até ao presente, no entanto, a mudança de mentalidades
de que depende esta evolução parece perto de
se realizar, mesmo se parece surgir timidamente no
horizonte, como mostram os avanços neste sentido
que se podem constatar, principalmente na Finlândia.
Demasiados homens ainda dependem das mulheres
para a execução das tarefas domésticas e familiares e
poucos participam nas mesmas voluntariamente. Ao
nível micro-social, as razões principais da lentidão
desta evolução parecem ser a ausência de diálogo
no seio dos casais e a resistência deles e delas à
mudança. A repartição secular das tarefas parece
ainda ser compreendida por um grande número de
pessoas como inerente à afirmação das respectivas
identidades enquanto homens ou mulheres.

Existem ainda outros factores contextuais. Entre
eles:
- a desigualdade de remuneração, e, em geral,
das condições de emprego, que persiste
entre as mulheres e os homens (15% de
diferença salarial média na União Europeia);
- a segregação no mercado de emprego
resultante duma ausência real de mistura
nas fileiras escolares, em particular nas de
maior desempenho e maior inovação, onde
se concentram os rapazes, e nas fileiras de
formação para serviços às pessoas, onde
se encontram a maioria das raparigas;
- o corporativismo dos principais
- a atmosfera nas empresas e os riscos
resultantes da prossecução da carreira após uma
paragem temporária devido a razões familiares;
- uma organização do trabalho e das
políticas de licenças paternais e familiares
inadaptadas às necessidades reais das famílias;
- falta de serviços indispensáveis às
famílias para que os dois cônjuges ou
parceiros possam investir numa actividade
profssional da mesma forma;
- as imagens do homem e da mulher
veiculadas no sistema educativo, bem como
nos meios de comunicação social, etc.

São estes, portanto, elementos desfavoráveis à mudança
de mentalidades pretendida, como confirmam
as respostas obtidas à segunda pergunta comum. A
falta de flexibilidade dos comportamentos profissionais
masculinos, que perdura face às responsabilidades
familiares, não poderá desaparecer a não ser que
a reconciliação entre a vida profissional e familiar se
torne uma dimensão transversal a todas as políticas
ligadas ao direito do trabalho e ao direito social. A incorporação
desta nova linha directriz parece ganhar
mais importância à medida que a integração do tempo
em família na organização do tempo de trabalho
surge cada vez mais como condição sine qua non para
uma aplicação com êxito do princípio da igualdade entre
as mulheres e os homens. De qualquer forma, para
que assim seja, é necessário repensar o conceito de
reconciliação entre a vida profissional e familiar em
termos universais, ou seja, em termos que incorporem
as expectativas e necessidades dos homens e das
mulheres — e não apenas das mulheres, como tem
sido o caso demasiadas vezes até hoje. Estes tais termos
universais só podem resultar dum compromisso
entre as necessidades e as expectativas dos homens
e das mulheres em relação ao tempo a consagrar à
vida familiar.
Se as reivindicações das mulheres são conhecidas há
muito, as dos homens mantêm-se quase inexistentes.
Em geral pouco motivados a fazer ouvir a sua voz
publicamente em relação a este assunto, os homens
demoram tempo a organizarem-se em grupos de
pressão, com um programa de reivindicações coerente,
claro e preciso, cujo objectivo seria fazer inscrever
o seu direito paternal a participar efectivamente nas
responsabilidades paternais (e familiares) nas políticas
públicas, bem como nas políticas empresariais e
no âmbito das organizações sindicais.
A tomada de consciência dos homens do seu papel
enquanto actores de mudança social no terreno familiar
– que só pode resultar duma aplicação estrita do
princípio da igualdade no mundo do trabalho – surge
cada vez mais como o elo em falta para a realização
da igualdade dos sexos em todas as estruturas sociais.
No caso particular da família, os homens devem
tomar consciência que a igualdade no seu seio depende
em primeiro lugar deles próprios, da vontade
e da capacidade de negociar e impor socialmente a
legitimidade da sua presença no lar para se ocuparem
dos seus fi lhos ou doutro membro da família que seja
dependente. Neste âmbito, os pais que estejam sós
com as crianças a seu cargo e que têm de fazer face
a essa situação poderão servir de catalizadores da
mudança.

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