quarta-feira, 19 de março de 2008

PAIS NÃO GOZAM LICENÇA DOS FILHOS

PAIS NÃO GOZAM LICENÇA DOS FILHOS


CÉU NEVES
Três em cada cinco homens não pedem os cinco dias úteis a que têm direito no primeiro mês após o nascimento do filho. A divisão da licença de maternidade ainda constitui uma raridade, apenas 413 homens partilham os 120 dias com a mulher. E os homens "donos de casa" representam somente 3200 cidadãos. Números que valem a pena recordar , hoje, quando se comemora o Dia do Pai.

Em 2005, só 42982 homens gozaram os cinco dias úteis a que têm direito pelo nascimento de um filho. E apenas 413 pais dividiram com as companheiras a licença de maternidade, um número que vai crescendo muito lentamente de ano para ano, registando 438 pedidos em 2006. Se pensarmos que nasceram 109 mil crianças no País, depressa se conclui que a maternidade/paternidade continua a ser mais vivida no feminino do que no masculino, apesar de toda a evolução da sociedade portuguesa. E a causa não está apenas entre os homens, já que, muitas vezes, são as próprias mulheres que não dão espaço aos companheiros para exercer os direitos da paternidade.

Um estudo recente publicado no livro Família e Género em Portugal e na Europa indica que os portugueses ainda são muito conservadores no que diz respeito à criação/educação dos filhos. Portugal ocupa "o lugar mais conservador de todos os países quando se trata das atitudes face ao impacto do emprego feminino nos cuidados à criança pequena e na vida familiar em geral (visto como muito negativo pela população portuguesa, quando comparada com as dos outros países), refere a socióloga Karin Wall, organizadora do estudo em conjunto com Lígia Amanso.

Os portugueses são muito modernos no que diz respeito à aceitação de transformações sociais como o divórcio, as uniões de facto, a divisão do trabalho pago, a igualdade de oportunidades entre sexos, mas revelam-se retrógradas quando se trata de decidir quem deve cuidar da criança, tarefa que dizem dever ser entregue à mulher. É o que revela o inquérito sobre as atitudes sociais publicado no livro e que é comprovado pelos dados estatísticos. Demonstram que ainda há muitos homens que se demitem das questões relacionadas com a maternidade e pelas mais variadas razões (ver textos ao lado).

Nasceram 109 399 bebés em Portugal em 2005, mais 101 do que em 2004 e mais 3950 do que o ano passado. E 60% dos homens nem sequer gozaram os cinco dias úteis a que tinham direito por lei, direito que só foi requerido por 42 982 trabalhadores , quase metade das trabalhadoras, 76 125. E não chega a 5% os que decidiram dividir a licença de maternidade com as companheiras, daí que os homens que o fazem continuem a ser notícia.

E homens que estejam em casa a cuidar dos filhos? "Se encontrar alguém, não é uma raridade, é um exotismo", diz a socióloga da família, Maria das Dores Guerreiro, acrescentando que isso não acontece apenas no território nacional. "Ficar em casa a cuidar dos filhos e a realizar tarefas domésticas ainda é encarado como um trabalho menor. Essa situação pode acontecer em determinada altura da vida, devido até a uma situação de desemprego, por exemplo, mas dificilmente será uma opção. Aliás, o Instituto Nacional de Estatística coloca os domésticos na população inactiva".

Em 2006, estavam registados 557 mil e 500 domésticos, sendo que apenas 3 200 são homens, percentagem que se tem mantido idêntica nos últimos anos.

Outro dado a ter em conta são as famílias monoparentais e que, segundo os Censos de 2001, representam 7% das famílias portuguesas. Entre estas, não chega a um por cento (0,9%) as que são constituídas por homens, uma proporção idêntica a outros países europeus, nomeadamente os países escandinavos.|

Fonte: http://dn.sapo.pt/2008/03/19/centrais/pais_gozam_licenca_filhos.html

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