sábado, 28 de março de 2009

Conferencia "Os conflitos parentais e a Regulação Judicial do Poder Paternal. O Síndrome de Alienação Parental, uma forma de Maus-tratos"

Entrevista com Aldo Naouri
"Os maus pais são os que acham que a criança tem direito a tudo"
25.03.2009 - 08h41 Bárbara Wong
Já está reformado, mas antes de ter deixado o exercício da pediatra ainda observou os netos de uma das suas primeiras doentes, orgulha-se. Sabe dizer “não tenhas medo” em 48 línguas, tantas quantas as nacionalidades de doentes que recebia no seu consultório, em Paris. Escolheu ser pediatra porque acreditava que não ia lidar com a morte. Enganou-se. Agora dedica-se à escrita de livros.

Em Educar os Filhos: Uma Urgência nos Dias Que Correm, publicada pela Livros d´Hoje, defende uma educação sem relações democráticas, onde as crianças são postas no seu lugar, que é o de obedecer sem questionar. Eles não têm direitos, porque não são o centro do mundo. Conservador? “Sim, mas no bom sentido da palavra”, admite.

Defende que os pais são muito permissivos e que devem exercer mais a autoridade. Como é que chegou a essa conclusão?
Quando os bebés vêm ao mundo, passam por um processo muito violento que é o da expulsão do corpo da mãe. Desde o primeiro dia que os pais procuram ajudá-los a adaptar-se e quando o bebé chora, a resposta dos pais é imediata na procura do seu conforto. Os pais acorrem imediatamente e o bebé compreende-o. O que defendo é que o bebé precisa de regras desde cedo, porque se estas não lhe forem ensinadas, ele permanecerá um bebé para o resto da vida.

Não é um cenário exagerado?
Não. A sociedade será constituída por indivíduos que estão centrados sobre si próprios, para os quais as regras e os outros não interessam. O problema da educação é não é só de cada uma das famílias, mas diz respeito directamente a toda a sociedade.

É por isso que defende que uma ordem, dada pelos pais, não deve ser explicada, mas executada?
Os pais e os filhos não estão no mesmo nível geracional, entre o pai e a criança a relação é vertical. Ao educarmos a criança, queremos elevá-la, fazê-la ascender ao nosso nível, ou seja, partimos do bebé para fazermos um adulto. Quando damos uma ordem e a explicamos, a relação vertical torna-se horizontal porque permitimos à criança que possa negociá-la. No entanto, ela precisa de saber que há limites.

Mas se aplicarmos este princípio, não estaremos a criar adultos sem pensamento crítico, que executam ordens sem perceber, nem contestar?
Este é um conceito que deve ser aplicado em qualquer idade: os pais dão a ordem e a criança executa. Claro que a ordem pode ser explicada, mas só depois. Dizer “não” a uma criança é como o parapeito de uma ponte, em cima da qual ela se encontra. Se não houver esse parapeito, a criança cai para o vazio e nenhum pai quer que isso aconteça. O “não” é uma protecção.

Os pais nunca pedem desculpa, nem mesmo quando erram ou são injustos?
Nunca! Os pais nunca pedem desculpa. Devem falar com firmeza e ternura. Nunca temos de nos justificar, nem de dar argumentos à criança. Podemos explicar, mas não justificar. O limite entre ambas é ténue, por isso defendo que na maior parte das vezes nem se explique.

O modo como os pais educam, por vezes, não é em reacção à forma como foram educados? Ou seja, eles tiveram pais rigorosos e autoritários, logo, são mais democráticos?
Justamente, quando os pais se tornam pais, por vezes, recordam que há algum ressentimento em relação aos seus pais e não querem repetir, nem querem que os seus filhos o sintam mais tarde. O que digo a esses pais é que as crianças estão condenadas a amá-los, porque foram eles que as educaram. É inútil entrar no jogo da sedução, esse é que é perigoso. Quando dizemos “não”, estamos a impor limites, estamos a dizer à criança: “O teu percurso é por cima desta ponte e esta tem parapeitos para que não caias à água.” Se os pais disserem “não” com tranquilidade, a criança não vai contestar.

Não haverá uma altura em que a criança quer espreitar por cima do parapeito ou pôr-se em cima dele?
A criança vai querer abanar a ponte, transgredir para ver se a ponte é sólida. Essa transgressão vai ajudá-la. As crianças são extremamente sensíveis aos limites, porque têm medo. A autoridade não é nociva, porque dá-lhes boas indicações sobre como é que devem seguir o seu percurso.

Por isso defende que é preferível educar as crianças de uma forma ditatorial a uma democrática?
Os pais são permissivos porque a ideia da democracia e dos direitos está muito espalhada. Ao criar as crianças de um modo ditatorial e autoritário, estas vão aprender a reprimir. A partir desse momento, compreendem que os outros também existem e, no futuro, serão democratas. Mas, se os criarmos em democracia, como se fossem iguais aos pais, vão crescer centrados sobre si mesmos, vão crescer como fascistas. O que é um fascista? É um indivíduo que pensa que tem todos os direitos.

Os pais têm mais direitos do que os filhos?
Hoje os pais procuram o prazer da criança e devia ser ao contrário. Os pais têm mais direitos, mas também mais deveres. O direito de saber o que é que lhes convém e às crianças e o dever de o impor à criança.

Não é isso a ditadura?
Não! Não é ditadura, mas autoridade. Se os pais continuarem a dar todos os direitos à criança, começam a pedir-lhe autorização para sair à noite, para fazer esta ou aquela compra. Em França, 53 por cento das decisões sobre que produtos comprar são decididas pelas crianças. Alerto para o risco de estarmos a criar tiranos.

Que tipo de adultos estamos a criar?
A mensagem do marketing insiste na importância dos filhos, o que paralisa os pais. A mensagem tem como objectivo aumentar o consumo. E estamos a criar crianças tiranas, autocentradas, perversas, que só pensam nelas.

São crianças que não sabem reagir à frustração? Que efeitos pode a actual crise económica ter sobre elas?
A crise económica é já um resultado de uma educação irresponsável.

Isso significa que as duas gerações anteriores já foram educadas nesse paradigma de que a criança é o centro do mundo?
Sim. As coisas começaram a mudar a partir do momento em que entrámos numa sociedade de abundância. Antes disso, dizíamos: “Não se pode ter tudo.” A partir dos anos de 1955/1960, passámos a dizer: “Temos direito a tudo.” A partir desse momento, começou a crescer a importância do “eu, eu, eu”.

Sempre pensou assim, ou, à medida que foi envelhecendo, foi mudando?
As crianças vão ao meu consultório e não têm problemas. Porquê? Porque trato rapidamente desta dimensão da educação com os pais. Quando estes falam com outros pais, recomendam-me: “Vai falar com Naouri.” E eles vêm. Preciso de duas ou três consultas para resolver os problemas com eles. Porquê? Porque dou este tipo de explicações.

Quais são as principais queixas dos pais?
Falta de disciplina, mau comportamento, desobediência nas horas de comer, tomar banho ou de dormir. Os pais pedem socorro, porque não conseguem reprimir as pulsões das crianças. Seja uma criança de um, três ou sete anos, procedo sempre do mesmo modo. Falo com os pais, escuto o que se passa, agradeço à criança por me ter vindo ver e ter trazido os pais e digo-lhe ainda que me vou ocupar dos pais. Em 80 por cento dos casos, as coisas ficam em ordem.

Como é que os pais sabem que são bons pais?
Os bons pais são os que permitem à criança poder desejar. Os excelentes não existem. Todos os pais têm defeitos, os maus são os que acham que a criança tem direito a tudo.

Qual é a sua opinião sobre as novas famílias, as monoparentais, as homossexuais, as divorciadas que voltam a casar... Podem ou não ser boas educadoras?
Em nome do egoísmo pessoal tomamos decisões que são prejudiciais para as crianças. As crianças filhas de pais divorciados divorciam-se mais rapidamente. As crianças de famílias monoparentais são crianças sós. Quanto aos casais homossexuais, a criança é como que um produto. Temos direito à felicidade, à saúde, a tudo o que queremos e também a uma criança. Isso é desumanizante.

Deviam existir escolas de pais, para estes aprenderem a educar?
Pessoalmente acho que a escola de pais vai ainda paralisá-los mais. Eles recebem demasiadas mensagens, algumas contraditórias e que paralisam. Defendo que os pais devem ser pais, que não tenham medo de o ser e de ter confiança. Se assim agirem, saberão o que fazer.

Disciplinas como Educação para a Cidadania ou Educação Sexual são necessárias?
Tudo é necessário. A função da escola não é educar, a educação deve ser dada nos três primeiros anos de vida, pelos pais. A escola faz isso como paliativo, mas não chega, porque a educação é um problema e responsabilidade dos pais.

Porque é que os pais não são mais firmes? Porque têm medo que os seus filhos os deixem de amar?
As crianças olham para o mundo como os pais o apresentam. A firmeza, quando é usada, vai passar a ser uma dimensão natural do mundo. Por vezes, as coisas não são perfeitas e é preciso gastar mais energia e mais tempo, mas os pais devem manter-se firmes, sem nunca esquecerem a ternura.

No seu livro afirma que as crianças não têm direitos. Porquê?
Explico no livro que quando a França tencionava assinar a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, os especialistas reunidos pelo Governo, entre os quais eu me encontrava, recusaram a sua assinatura porque é um documento que não se adequa ao contexto europeu, porque são só direitos, sem enunciar qualquer dever, o que leva ao laxismo. No entanto, o Governo já a havia assinado.

Mas há crianças europeias que vivem na miséria, são vítimas de abusos e de maus tratos. Não precisam de ter direitos?
São poucas as que vivem essas situações. É importante sublinhar que o direito mais importante a que a criança tem direito é à educação. É curioso verificar que "educar" e "seduzir" são construídas a partir da mesma palavra do latim "ducere", que quer dizer, "puxar para si", "conduzir", o que deu "ducare", "educar". Mas "ducere" parte do radical "dux" que quer dizer "chefe". A ideia de chefe ou do exemplo que dele se destaca. Ora "seducere", é exactamente o contrário, é colocar de parte o exemplo do chefe. Educar implica impor à criança um constrangimento ou uma privação que faça sentido em si. E que não é para ter efeito imediato, mas a longo prazo.

Em consultório, já houve pais que discordaram consigo e deixaram de o consultar?
Há pais que ficam chocados com o que digo. Não posso fazer nada. Pelo meu consultório passaram pessoas de 48 línguas diferentes. Quando vejo alguém pela primeira vez cuja língua materna não é o francês, pergunto como é que na sua língua se diz "não tenhas medo" e transcrevo foneticamente. Sei em chinês, grego... E quando pego na criança digo-lhe "não tenhas medo". À criança digo pouca coisa, trato-a com ternura e ela sente-a. Mas falo sobretudo com os pais. O que é surpreendente é a rapidez com que os pais recuperam as suas capacidades de educadores. Falo com eles e é como se se encontrassem e se sentissem autorizados.

Já foi acusado de ser de extrema-direita?
Sim, por uma imprensa que recusa totalmente a possibilidade de educar. Digo que são pessoas que não sabem nada de educação, que me acusam de fazer muito barulho e de querer impor um modelo e de dar uma ideia de catástrofe. Mas é preciso chamar a atenção para os perigos de uma educação permissiva. Contudo, a maior parte das reacções, as centenas de cartas e de e-mails que recebo são de pais que me agradecem.

E os investigadores e outros autores estão de acordo com as suas ideias?
A maior parte está de acordo. Os psicanalistas que conheço, excepto, dois ou três, dizem que o meu trabalho é excelente e necessário.

Os pediatras devem ser mais do que médicos que fazem diagnósticos?
Antigamente, os pais pediam aos pediatras: Faça tudo para que o nosso filho não morra e que tenha uma boa saúde. Agora, pedem-nos para colaborar com eles na educação. Mas os pediatras não sabem responder e é uma pena.

Não sabem responder porque falta formação nessa área?
Sim, há 60 anos que a pediatra continua a ser ensinada da mesma maneira. Os estudos deviam preparar os pediatras para saber responder a todas as dúvidas educacionais dos pais. Um dos problemas da pediatria é que as palavras “pai” e “mãe” não existem e os médicos só conhecem as palavras “bebé” e “criança”.

Os pediatras deveriam ter mais conhecimentos de psicologia e pedagogia?
Absolutamente. Os pediatras deviam perceber que os pais quando têm problemas com o comportamento dos filhos não querem ir falar com um psicólogo, mas com o médico que acompanha os seus filhos. É preciso mudar. Eu estudei psicanálise, mas também antropologia, sociologia, linguística. Fui-me formando e os meus colegas pedem-me para falar com eles sobre estes temas porque percebem que têm essa dificuldade.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1370779

CRÓNICA - PARENTALIDADE E O NOVO CÓDIGO DO TRABALHO


Segunda-feira, 16 de Março de 2009
CRÓNICA - PARENTALIDADE E O NOVO CÓDIGO DO TRABALHO

É voz corrente que a natalidade na Europa está pelas ruas da amargura. Muito embora 2008 tenha trazido um ligeiro crescimento nesta matéria, as perspectivas são que em 2009 – lá volta a culpada da crise – essa tendência não se mantenha.


Entre variadíssimas razões que se podem apontar, maioritariamente consequência da necessidade económica, o que é facto é que a família Portuguesa tem medo de ter filhos. Infelizmente, em muitos casos, com razão!


Os casais atrasam o quanto podem essa opção, e, pasme-se, ter filhos nos dias de hoje é apelidado de acto de coragem, ou loucura, conforme o comentador. Os que ousam, na sua maioria, ficam-se por 1 criança, sendo a ultrapassagem desse limite escassa.


Ora, não é preciso ser grande matemático para perceber que se dois adultos trazem ao mundo apenas uma criança, a população definhará!



Não obstante esta realidade que nos confronta diariamente, muito se tem falado de políticas agressivas para inverter o estado das coisas, mas infelizmente apenas timidamente se tem actuado.


O novo Código do Trabalho traz nesta matéria algumas inovações, numa tentativa, que considero meritória, de incentivar a instituição familiar e a repartição entre pai e mãe da sua vivência corrente.


No que concerne por exemplo ao regime da licença parental, entre o já existente e o que de novo agora se introduz, pode resumir-se o seguinte:
O pai ou a mãe, pelo nascimento do filho, podem gozar uma licença de 120 ou 150 dias consecutivos. Agora, esta licença é aumentada em 30 dias caso haja uma repartição entre pai e mãe no seu gozo devendo os pais informar os empregadores, no prazo de 7 dias após o parto, dos períodos que cada um gozará.
Como já acontecia anteriormente, em relação à mãe, sendo obrigatório o gozo de 6 semanas após o nascimento, esta pode gozar 30 dias da licença antes do parto devendo informar o empregador juntando atestado médico com a data previsível do parto.


Também o pai, no novo regime, passa a estar obrigado ao gozo de 10 dias úteis no 1.º mês após o nascimento do filho, 5 dos quais têm de ser consecutivos e imediatamente seguintes ao parto. Passa-se de um regime inferior e facultativo, para uma actual obrigatoriedade.
Também na adopção do regime da licença é alterado, equiparando-se ao regime normal do nascimento, seguindo, regra geral, as mesmas disposições da licença de parentalidade.
Novidade do novo diploma é a possibilidade de os avós, em substituição dos pais, faltarem justificadamente ao trabalho para prestar assistência ao neto.
Dois traços se reconhecem neste diploma. Por um lado uma vontade de aproximar o papel do pai e da mãe no acompanhamento dos filhos, forçando até a existência dessa participação conjunta; Por outro um reforço das medidas de incentivo à organização familiar.
A sociedade, como nós a conhecemos, necessita de preservar – e até de incrementar – uma instituição familiar forte, orgulhosa e resistente.
Tal não tem de significar a protecção de um modelo estático e inamovível. A família, como todas as instituições, deve evoluir fruto dos impulsos e resistências que vai encontrando pelo caminho.
Digo por experiencia própria que nada há de mais profundo e renovador que o desafio constante da paternidade. Conheço os receios daqueles que, como trabalhadores, dão a novidade envergonhada nos seus empregos, temendo ser “postos de lado”. Sei de igual forma os constrangimentos evidentes provocados aos empregadores pela “perda” ao longo de meses dos novos pais.
Há no entanto apenas uma solução. Criar consensos, adaptabilidades e priorizar interesses. Numa certeza porém, sem pessoas não há País.


DAVID CARDOSO
ADVOGADO

quarta-feira, 25 de março de 2009

O casal à frente dos filhos

O casal à frente dos filhos
24 | 03 | 2009 08.07H

Pediatra e psicanalista, Aldo Naouri veio a Portugal lançar o seu best-seller «Educar os Filhos – uma urgência nos dias que correm». Tudo o que diz é politicamente incorrecto, desde o seu elogio da autoridade parental e da frustração, até à certeza que transmite que uma família feliz é aquela em que o casal vem primeiro, e os filhos depois. Nesta entrevista ao Destak, aliás como no livro, falou sem papas na língua, mas com um sorriso permanente e uma gargalhada fácil, que nos deixa a certeza de que o seu empenho nesta missão de reintroduzir as palavras bem e mal educado no nosso vocabulário, é mesmo um esforço para que a sociedade, a começar pelos pais, não «dêem cabo» do espantoso potencial de uma criança.

Isabel.Stilwell | editorial@destak.pt

Qual é o mito que corrompe a educação?

Deixar crer aos pais que as crianças se desenvolvem apenas com amor. Que os pais só precisam de amar e esperar para ver...

E, de facto, o amor não chega?

Não, sozinho não chega. As crianças têm pulsões muito fortes e em estado bruto. É fundamental canalizar essa energia. Ensina-los a saber fazer uso dos seus impulsos. Só assim crescem e se tornam indivíduos sociais e sociáveis, capazes de pensar nos outros. Se este processo não acontecer ficam bebés, reféns do seu egocentrismo, incapazes de superar obstáculos, absolutamente egoístas, e que respondem com violência e descontrolo a qualquer frustração. Aquilo, afinal, de que os pais se queixam quando vão a uma consulta de pediatria e dizem que não conseguem ter mão nos filhos, aquilo que vemos nas ruas quando os pequenos ditadores fazem a vida negra aos pais, aquilo que a escola sofre, num clima de indisciplina inacreditável, onde aprender é impossível.

Mas porque é que suportamos tão mal vê-lo sofrer. Dói mesmo ver o nosso filho sozinho, num canto do recreio... Como é que se resiste à vontade de intervir...

Ah, a dor do menino sozinho no recreio! O que percebemos nesse momento é que demos vida a uma criança que está destinada a morrer... É um pensamento que não consciencializamos, claro, mas de cada vez que não o podemos proteger sabemos, cá dentro, que ele está sozinho. Aliás, como nós.

Faz o elogio da frustração. Não posso concordar mais consigo. Em teoria. Porque na prática, custa imenso frustrar um filho, dizer-lhe que não. Dávamos tudo para os ver sempre felizes...

Custa-nos tanto porque revivemos essa dor. Mas não podemos projectar neles a nossa dor. Frustrá-los é absolutamente necessário, indispensável para que venham a ser pessoas realizadas e felizes. E quando estamos convictos disso, depois é tão simples como levá-los às vacinas. A pica dói, pois dói, mas sabemos que lhe vai salvar a vida, por isso nem hesitamos.

A função dos pais é colocar limites?

Educar é colocar limites. É assumir a autoridade que o papel de pais nos dá. Sabemos o que é melhor para o nosso filho, e temos que acreditar nisso, sem ir na conversa do politicamente correcto. Uma criança sem limites, é uma criança que se sente desprotegida, angustiada, horrivelmente angustiada. A hierarquia lá em casa tem que ser vertical, connosco no vértice de cima. Aquela ideia dos pais amigos, de uma relação horizontal, é um verdadeiro mau-trato.

Porque é que temos tanto medo de perder o amor dos nossos filhos?

Sabe porquê? Porque temos ressentimentos em relação aos nossos pais, temos vergonha desses ressentimentos que nos dão a sensação de que não os amamos tanto quanto devíamos, e dávamos tudo, como diz, para que os nossos filhos não os tivessem em relação a nós. Impossível. O papel dos pais não é seduzir os filhos, dar-lhes uma imagens de uns companheiros fantásticos, bonzinhos e bonitos, mas educá-los. E já agora, haverá sempre ressentimentos, mas não há risco de fazerem perder o amor.

Tendemos a querer dar tudo aos nossos filhos, até mesmo uma vida sexual... «Podes dormir com o teu namorado lá para casa (nos carros é perigoso, há assaltos), e já agora aqui está um contraceptivo...» Não é um pouco como aqueles países que invadem outros, a pretexto de que lhes vão levar a «liberdade»...

(bate com a na testa). Primeiro, desenganem-se, sem interdito não há sexo. E numa família, nem os filhos querem saber da vida sexual dos pais (os seus, só fizeram «aquilo», uma única vez para os conceber), e os pais não se devem meter na vida sexual dos filhos. É preciso que eles conquistem aquilo que querem, com esforço, que é uma das outras palavras que deveria voltar ao nosso vocabulário.

Diz que se fizermos as coisas bem feitas, aos três anos já estão educados...

E estão mesmo. Quanto mais cedo conhecerem e interiorizarem as regras básicas, mais fácil será o seu desenvolvimento. Os miúdos educados assim são miúdos que têm uma evolução tranquila, mesmo uma adolescência tranquila.

Nada a fazer então aos que foram mal-educados, outra palavra que gostava de ver assumida de novo no nosso vocabulário?

Tudo a fazer, mas vai dar muito, muito, mais trabalho. Quanto mais tarde, mais trabalho.

Gostei imenso de ler que para uma família feliz, o casal tem que vir primeiro que os filhos. Gostei de ler, mas na prática, sobretudo os pais que trabalham sentem que todos os seus tempos livres têm que ser para os seus filhos… Para os compensar da falta que, teoricamente, lhes fazem.

A vida física e psíquica das crianças faz-se na cama dos pais. Se eles estão bem um com o outro, se estão unidos e se valorizam o casal como a força fundadora da sua família, os filhos vão estar melhor ainda.

No seu livro é muito claro quando diz que os pais têm o direito de querer que o seu filho seja uma pessoa de bem, porque afinal vai ser conhecido como «o filho de...». É revolucionário dizer isto, quando achamos que só temos a obrigação de dar, e não é legítimo pedir nada em troca…

Estabelece-se entre pais e filhos uma dívida – o pai deve merecer o orgulho do filho, porque é «pai de..», mas também tem direito a que o filho se comporte de forma a ser motivo de orgulho, porque afinal vai ser conhecido como «filho de...».

Mas cita Freud, quando este dizia a uma doente sua qualquer coisa como faça como quiser, porque eduque como educar vai educar sempre mal...

O que Freud queria dizer é que não vale a pena andar à procura de pais perfeitos. Não existem. Alias como também não existem filhos perfeitos, e nem vale a pena esperar que o sejam. Os pais têm uma história própria que os impedem de ser perfeitos, o filho também é portador dessa história, e portanto.... O ódio e o amor, mesmo nas relações profundas e incondicionais como as de pais e filhos, estão sempre presentes.

Tem-se discutido muito se os tribunais devem, ou não devem, ouvir as crianças num caso de divórcio, por exemplo. O que pensa disto?

Acho que devem ser ouvidos por especialistas, e com a maior das cautelas, porque as crianças são facilmente manipuláveis, tanto pelo pai como pela mãe. Mas escutar uma criança não significa fazer o que ela quer ou pede. É preciso que se faça o que é melhor para ela, que pode ser uma coisa completamente diferente. Sem nunca a alienar de um dos pais, seja pai ou mãe.

Acredita que a actual crise económica, porque provoca inevitavelmente frustração, vai ajudar a educar uma geração que, defende, tem demasiados elementos mal-educados?

O que não tenho dúvida nenhuma é que a crise económica foi provocada por indivíduos mal educados! Pessoas que continuaram em adultos a comportarem-se como uma criança que acredita estar sozinha no mundo e ser o centro do universo. Um bebé adulto que mete tudo ao seu bolso, sem pensar nas consequências para os outros…

http://www.destak.pt/artigos.php?art=24938

segunda-feira, 23 de março de 2009

Educação Parental

Local: Lisboa
Data: Maio a Julho 2009

Destinatários

  • Psicólogos, técnicos de desenvolvimento comunitário e saúde mental, técnicos de reabilitação e inserção social, assistentes sociais
  • Técnicos de Comissões de Crianças e Jovens em Risco
  • Animadores sócio-culturais, educadores sociais, professores e educadores de infância
  • Sociólogos e juristas

Objectivos

  • Reflexão sobre as práticas profissionais desenvolvidas no âmbito de Programas de Educação Parental em diferentes contextos;
  • Avaliação do Impacto, e sempre que se justifique, correcção das trajectória delineadas;
  • Aprender a construir Programas de Educação Parental.

Programa

  • Mudança do papel da família e novas tarefas educativas dos pais de hoje
  • Programas de Educação Parental – Fundamentos, pressupostos e estudo de casos
  • A comunicação no quadro da relação escola – família
  • Conceito de “envolvimento parental”
  • Participação das famílias no processo educativo
  • Processo educativo / práticas educativas
  • Representações e expectativas das famílias
  • Aprender a construir e avaliar Programas de Educação Parental
  • Papel do técnico na intervenção social

Metodologia

Exposição teórico-prática. Dinâmicas de grupo. Apresentação e discussão de Programas

Duração

30 horas

Formadora

Mestre Eva Delgado-Martins (Psicóloga educacional, mestre na área Educacional, doutoranda na área de Psicologia Educacional sobre Programas de Educação Parental, docente no ISPA e responsável pelo serviço de Supervisão de Programas de Educação Parental no DFP/ISPA)

Calendarização

As sessões decorrerão aos Sábados, das 9h30 às 12h30 e das 13h30 às 16h30 nos seguintes dias:

Maio: 16 e 30
Junho: 27
Julho: 11 e 25


Informações adicionais em: http://www.psicologia.com.pt/profissional/formacao/ver_formacao.php?id=1687&grupo=1

quinta-feira, 19 de março de 2009

Depressão pós-parto afecta um em sete pais

Depressão pós-parto afecta um em sete pais

Afastamento da companheira e tipo de profissão são factores de risco

00h30m

HELENA NORTE

Um em cada sete pais sofre de depressão pós-parto, prejudicando não só os cuidados que presta ao bebé como a qualidade da relação do casal. No Dia do Pai, o enfoque para um problema que se julgava exclusivo das mães.

Uma investigação realizada em Portugal demonstra que sofre mais quem é pai pela primeira vez, não tem rede de apoio e é alvo de pressões profissionais que dificultam o desempenho das tarefas parentais.

O estudo realizado pelo enfermeiro Aldiro Magano no Hospital S. Sebastião (Feira) comprova que a realidade portuguesa não destoa da tendência já documentada na investigação internacional: 15% dos homens apresentam sintomatologia depressiva após o nascimento de um filho. O que se julgava ser de natureza biológica e exclusivo do sexo feminino - a depressão pós-parto como consequência das oscilações hormonais no período puerperal - é, afinal, um fenómeno também vivido no masculino e que decorre de causas muito diversas.

A depressão pós-parto nas mães pode levar, nos quadros mais severos, a situações de negligência e abandono do filho. Embora não haja estudos conclusivos sobre os feitos da depressão no pai, sabe-se que prejudica os cuidados com que presta ao bebé e afecta significativamente o equilíbrio da mãe. "Se estiverem presentes outros factores de risco, a depressão do companheiro pode agravar a situação. É importante detectar precocemente estes casos", explica Mónica Fernandes, da Consulta de Psicologia da Maternidade Júlio Dinis, Porto.

Os sinais revelam-se, em regra, mês e meio depois do parto. É nessa altura que os pais começam a ressentir-se do cansaço, das mudanças na rotina e da falta de disponibilidade da mulher, explica Aldiro Magano. "Antes, não são relatadas grandes alterações na relação conjugal, mas, depois das seis semanas, começam a surgir queixas com a sobrecarga de tarefas domésticas e familiares e a falta de proximidade física com a esposa", acrescenta o enfermeiro.

As primeiras quatro a seis semanas são, aliás, uma fase crítica também para as mulheres. "É um período de adaptação, em que a mãe está a estabelecer uma relação de vinculação com o bebé. É natural que tenha menos disponibilidade para tudo o que não esteja directamente relacionado com o filho", sublinha a psicóloga.

As alterações hormonais, o cansaço pelas frequentes amamentações e restantes cuidados ao bebé, assim como a própria recuperação do parto (mais complicada quando houve cesariana), diminuem a libido e prejudicam a interacção com o companheiro.

O tipo de profissão parece ser também um factor de risco para o desenvolvimento de depressão pós-parto nos homens. O estudo de Aldiro Magano revelou que os pais com actividades profissionais mais diferenciadas e exigentes apresentam mais sinais de ansiedade, tristeza, cansaço, desconcentração, o que pode ser explicado pela maior dificuldade em conciliar o trabalho com a família.

Além da actividade profissional, a idade é outra variável directamente relacionada com esta problemática. Os homens mais jovens lidam pior com a paternidade, principalmente, quando a gravidez não foi planeada.

A boa notícia é que, embora possa manter-se durante 12 meses, a depressão pós-parto tende a suavizar com o tempo e, na maioria dos casos, desaparece completamente. O follow-up aos casais estudados por Aldiro Magano demonstra que os níveis de depressão diminuíram significativamente.


Fonte: JN


Pais modernos mostram "que o carinho e a ternura não têm rosto"

Pais modernos mostram "que o carinho e a ternura não têm rosto"

Regional2009-03-19 08:30

No Dia do Pai, que se assinala esta quinta-feira, são ainda muitas as fronteiras culturais e sociais que os pais modernos ultrapassam para entrarem em domínios que são considerados destinados apenas às mulheres, entre eles, a proximidade íntima e educativa com os filhos.(Com vídeo)
No século passado a figura do pai era vista como alguém ausente, autoritária, que sustentava a família e que apenas falava com os filhos para os castigar.

Actualmente, esta imagem parental tem vindo a ser desconstruída, progressivamente. De acordo com a socióloga Piedade Lalanda, "no século XXI, surge um pai amoroso e meigo e que cada vez mais reconhece a importância disso."

Contudo, a especialista também faz questão de realçar que estatísticas de alguns trabalhos recentes sobre a divisão das tarefas domésticas, mostraram que o peso dos pais que cuidam dos filhos e que ajudam em casa, não é ainda maioritário.

"Quando o pai entra no domínio de uma relação mais próxima com os filhos, que não seja a brincadeira, mas no que toca aos cuidados a prestar, como ir ao médico ou ir à escola e ver como é que está o andamento escolar dos filhos, verifica-se que estas tarefas são ainda maioritariamente ocupadas pelas mães", afirma.

Piedade Lalanda esclarece ainda que, confrontados entre escolher ausentar-se para ir à escola ou ter que trabalhar, provavelmente, muitos pais recusam faltar ao emprego e deixam a mulher a tratar desses assuntos.

Assim sendo, esta delegação da competência dos cuidados na mulher faz do pai uma figura ainda ausente, em relação a certos aspecto da vida dos filhos.

No entanto, "já se começa a constatar algumas modificações em relação aos pais ditos mais tradicionais e mais fechados sob o modelo de pai como sustento da família. É facto que isto tem vindo a mudar, mas ainda não é uma maioria", revela a especialista.

Hoje já é possível observar pais que não se deixam conduzir pelo velho estereótipo machista e que fazem questão de acompanhar os filhos desde a gestação, participando no seu desenvolvimento de forma muita activa.

A socióloga refere mesmo, que os pais devem acompanhar e partilhar a experiência da gravidez da mulher, pois "é um momento importante para construir a paternidade".

Contudo, a mudança da mentalidade não é vista em todos os pais... Provavelmente, só nos mais jovens que reconhecem a importância da proximidade com os filhos.

Desta forma, a sociedade está ainda a passar por um processo de desenvolvimento, em relação à entrada do homem no mundo íntimo da família.

A divisão das tarefas nos jovens já se vê, mas "socialmente ainda existe uma certa rejeição de que os homens têm perfil para cuidar das mulheres, dos idosos, das crianças, ou seja, do mundo da família", afirma Piedade Lalanda.

Contudo, hoje em dia, já ninguém contesta a importância da proximidade física e afectiva dos pais. "A ternura, o afecto e o carinho não têm rosto nem sexo, portanto, são atitudes de homens e mulheres", reivindica a especialista. Para a socióloga, o pai não deve ficar apenas associado à figura do castigo, mas também àquele que ajuda e apoia. Neste sentido, "o pai próximo é o pai que ocupa espaço na relação e no diálogo não para se impor, mas sim para partilhar."

"A paternidade é uma dimensão fundamental da relação humana e para a construção de um ser humano. Portanto, devemos olhar para esta data como uma oportunidade para analisar e reflectir sobre o tema do Pai", conclui Piedade Lalanda.

Rita Sousa / Teresa Franco / Rui Jorge Cabral

Fonte: http://www.acorianooriental.pt/noticias/view/181716

DIA DO PAI

.::: Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai. (Sigmund Freud) :::.
http://www.youtube.com/watch?v=KBg-R0ifjcY

segunda-feira, 16 de março de 2009

PARENTALIDADE POSITIVA

Este texto tem como finalidade colaborar com os pais alertando-os para as grandes necessidades das crianças e dos jovens por quem são responsáveis.

A vida familiar é a realidade em que crescem e são educadas as gerações mais novas da nossa sociedade e todos têm consciência de como é essencial a existência de um ambiente estável e positivo, onde quer os pais quer os filhos encontrem um espaço próprio e sejam amados e reconhecidos. O respeito, o diálogo, o carinho que devem caracterizar as relações entre adultos e crianças na convivência familiar não dispensam as normas e a disciplina, a exigência e a responsabilidade que cabe a cada membro.

O documento presente poderá ser tambem um ponto de partida para debates e troca de experiências em encontros a promover sobre estas temáticas, dinamizando assim a entreajuda das famílias e a promoção de uma partilha nas escolas, nas autarquias e nas paróquias em torno das questões ligadas à educação e ao papel dos pais.

Partindo do princípio que quem é pai e mãe quer o melhor para os filhos e conta com a sua intuição para os educar, enunciam-se em seguida algunmas recomendações que resumem as condições necessárias ao bom exercício das funções parentais.

Princípios para uma Parentalidade Positiva

Os Princípios para uma Parentalidade Positiva traduzem-se em políticas e medidas de apoio à parentalidade subordinadas aos seguintes princípios:

  1. Reconhecer todas as crianças e todos os pais como titulares de Direitos e sujeitos a obrigações;
  2. Reconhecer os pais como primeiros e principais responsáveis pela criança devendo respeitá-la de acordo com os seus direitos. Cabe ao Estado intervir para proteger a criança;
  3. Reconhecer como positiva e necessária a cooperação entre os pais e outros agentes de socialização das crianças, nomeadamente o próprio Estado;
  4. Assegurar que os pais e as crianças sejam envolvidos na elaboração e aplicação das políticas e medidas que lhes são destinadas;
  5. Promover a igualdade de oportunidades de ambos os progenitores no exercício da parentalidade positiva, no respeito da sua complementaridade;
  6. Reconhecer a necessidade de condições de vida que permitam aos pais a sua realização pessoal e que sejam adequadas ao exercício da parentalidade positiva, nomeadamente a independência social e económica e o acesso aos bens e equipamentos de apoio às famílias;
  7. Respeitar as diferentes formas de parentalidade e de situações parentais através de uma abordagem pluralista;
  8. Reforçar a parentalidade positiva através de mecanismos incentivadores que aproveitem o potencial natural dos pais;
  9. Conceber os mecanismos de reforço à parentalidade positiva numa perspectiva de longo prazo de forma a garantir a sua sustentabilidade;
  10. Garantir redes adequadas de apoio à parentalidade positiva com padrões de qualidade reconhecidos e imparciais e segundo este conjunto de princípios comuns aos diversos níveis de actuação;
  11. Assegurar uma cooperação intersectorial aos diversos níveis iniciando e coordenando neste domínio as acções dos diferentes agentes envolvidos, com o fim de aplicar uma política global e coerente;
  12. Promover a cooperação internacional e facilitar a troca de conhecimentos, experiências e boas práticas em matéria de parentalidade positiva

Recomendações

1. Compromisso - Os pais devem comprometer-se a proporcionar cuidados e atenção regular e personalizada às suas crianças.

2. Disciplina Assertiva - Os pais devem educar as suas crianças aplicando uma disciplina assertiva, compreensiva e compassiva, sem violência de qualquer tipo.

3. Ambiente - Os pais devem assegurar às suas crianças um ambiente de apreço e reconhecimento. Os pais devem promover um ambiente físico saudável e organizado.

4. Sentido de Inclusão na Família - É muito importante que os pais assegurem às crianças um sentido de inclusão na família, pois esse sentimento de pertença permitirá às crianças exercer o direito de participação na vida familiar.

5. Confiança mútua - Ambos, pais e criança, devem-se olhar mutuamente como seres humanos e criar uma relação de proximidade.

6. Exemplos Positivos - Os pais deverão constituir-se como modelos emocionais positivos para as crianças, transmitindo aos seus filhos pensamentos e comportamentos emocionalmente saudáveis.

7. Orientação e Instrução - Os pais devem desenvolver permanentemente as suas competências parentais com o intuito de definirem objectivos motivadores para as crianças relativamente à sua autonomia e responsabilização.

Para efeitos da aplicação da presente Carta de Princípios, entende-se que:

“Crianças” designa crianças e jovens menores de 18 anos;

“Pais” designa pai e/ou mãe bem como outras pessoas titulares da autoridade e da responsabilidade parental;

“Parentalidade” integra o conjunto de funções atribuídas aos pais para cuidar e educar as suas crianças. A Parentalidade centra-se na relação pais-filhos e integra direitos e deveres para o desenvolvimento e auto-valorização das crianças;

“Parentalidade Positiva” refere-se a um comportamento parental fundado no respeito pelos direitos da criança que visa assegurar a satisfação das necessidades básicas através da protecção dos riscos e a criação de um ambiente que promova o seu desenvolvimento harmonioso, valorize a sua individualidade (e especificidade) e autonomia.



Conselho Consultivo das Famílias
ccfamilias.sear@mtss.gov.pt



MINISTÉRIO DO TRABALHO E DA SOLIDARIEDADE SOCIAL


http://www.paisparasempre.eu/ppositiva/parentalidadep.html


sábado, 14 de março de 2009

O USO DE CRIANÇAS NO PROCESSO DE SEPARAÇÃO SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

O USO DE CRIANÇAS NO PROCESSO DE SEPARAÇÃO SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL
Artigo publicado na revista Lex Nova, out/dez 2005.

Jose Manuel Aguilar Cuenca - Psicólogo


No início dos anos 80 começou a ocorrer um número de mortes inexplicáveis que viriam mudar a história recente de nosso planeta. Ninguém sabia qual era o motivo para estas mortes e conseqüentemente começaram a ser elaboradas diferentes hipóteses. Para explicar o que estava acontecendo, as pessoas começaram a falar de maldições, novas drogas letais, conspirações de grupos paramilitares ou do governo, e até de castigo divino.

No início dos anos 80 a AIDS não existia. Não era encontrada em nenhum livro de medicina, os fóruns não a incluíam em seus debates, não havia especialistas para escrever livros sobre o assunto e nenhum governo do mundo considerava sua tarefa, estabelecer fundos para auxílio da vítimas.

Atualmente, como foi a AIDS há 20 anos, a Síndrome de Alienação Parental (PAS / SAP) é um mal não conhecido pela maioria daqueles que trabalham na área de âmbito judicial de nosso país, e sobre a qual não existe quase nenhuma informação disponível para os profissionais “paralegais” como psicólogos sociais, médicos e assistentes sociais que devem participar do trabalho envolvido. No entanto, este mal, atinge milhares de crianças, todo ano, e é responsável por um número desconhecido de patologias entre essas crianças.



POR QUE MEU FILHO NÃO QUER ME VER?

A Academia Real Espanhola define mentira como uma expressão ou afirmação contrária ao que é conhecido, acreditado ou pensado, e que mentir é dizer, mostrar ou fazer o oposto do que é conhecido, acreditado ou pensado. O psicólogo Paul Ekman (a985) considera que “existem duas formas fundamentais de mentira”: esconder (omitir) e falsificar. O mentiroso que omite, retém certas informações sem dizer, de fato o que a verdade exige. O mentiroso que falsifica vai um passo à frente: ele não só omite a informação verdadeira, mas apresenta informação falsa como se fosse verdade”. O requisito para discriminar entre o que é real, plausível e portanto verdadeiro, e o que é omitido e às vezes, também falsificado, é o foco diário do psicólogo enquanto desenvolve seu trabalho para cortes e tribunais. É uma área de estudo que está se tornando mais e mais polêmica. Em acréscimo, durante algumas décadas, outras idéias de fora do domínio legal, vieram ocupar espaço exatamente nesta área em que outros profissionais têm trabalhado. Este é o caso de termos como programar, fazer lavagem cerebral e provocar alienação. Foram então acrescentados aos conceitos de mentira ou verdade, os conceitos de realidade e de crença na realidade, tornando as investigações psicológicas mais complexas, porém muito mais adaptadas ao que estava acontecendo na área de conflito familiar.

A Síndrome de Alienação Parental é uma desordem caracterizada por um conjunto de sintomas resultantes de um processo no qual um dos pais transforma as percepções de seus filhos, através de diferentes estratégias, com o objetivo de impedir, obstruir ou destruir suas relações com o outro “pai”, até que os sentimentos da criança se tornam contraditórios em relação àqueles esperados. Esta situação está diretamente relacionada com os processos de separação conflitantes, ou quando as separações se iniciaram de acordo mútuo tornando-se subseqüentemente em situações conflitantes.

O primeiro autor a definir PAS foi Richard Gardner (1985), Professor de Psiquiatria Clínica do Departamento de Psiquiatria infantil da Universidade de Colúmbia, em um artigo intitulado “Tendências Atuais em Litígios de Divórcio e Custódia”. Revisando a história desta síndrome podemos descobrir que o mesmo ingrediente essencial foi descrito de várias formas, até mesmo paralelamente e sem contato, por diversos autores. Na minha opinião, cada um deles, tomando como base sua própria experiência profissional, nomeou de formas diferentes a mesma síndrome. Wallerstein (1980) na Califórnia e Jacobs (1988) em Nova Iorque publicaram informações sobre casos que ambos classificaram como síndrome de Medea - a Síndrome de Medea começa com um casamento em crise e a separação subseqüente e descreve como os pais adotam a imagem de seu filho como uma extensão deles mesmos, perdendo a noção do fato de que eles são seres completamente separados - enquanto Michigan Blush e Ross (19860 publicaram um trabalho em que eles definiram o perfil da personalidade de pais que apresentaram falsas acusações de crimes sexuais, definindo a síndrome SAID (Sexual Allegations in Divorce / Alegações Sexuais no Divórcio).

Finalmente, no mesmo ano, Turkat descreveu a Síndrome da Mãe Maldosa Associada ao Divórcio - mães maldosas são aquelas que usam a lei com sucesso para punir e para ameaçar seus ex-esposos, usando todos os tipos de meios legais e ilegais, com o objetivo de impedir o contato entre a criança e o pai em questão (o pai objeto).

Todos os trabalhos anteriores refletiram fatos que, no curso da investigação, abriram caminho para a compreensão de diferentes situações encontradas no cerne dos processos de separação e divórcio – as quais profissionais e pais precisam saber. O assumir, por parte das crianças as inerentes prevenções, idéias e atitudes ofensivas do “pai alienante”, é criada pela manipulação de sua consciência, até o ponto em que as crianças sentem suas emoções negativas de repulsa por suas mães ou pais como se isto fosse alguma coisa a que elas tivessem chegado por elas mesmas, um fenômeno definido por Gardner como “o pensador independente”. Neste ponto a criança já terá se fechado numa personalidade que ela acredita ter sido criada por ela mesma, de tal forma que se torna impermeável às influências de outros, equipando-se com todos os recursos necessários para manter seu sistema de valores e crenças, com o objetivo de isolar qualquer possível influência.



COMO MANIPULAR SEU FILHO?

Para manipular ou influenciar seu filho para o ódio, com o objetivo de que ele ou ela rejeite contato com o outro pai, existe a necessidade de haver o que eu identifiquei como certos pré-requisitos. O pai alienante tenta alcançá-los para conseguir chegar ao objetivo de destruir a ligação emocional entre a criança e o outro pai – e existe a necessidade de comportamentos específicos - que o alienador usa para executar seu plano.

Se objetivarmos atingir um sujeito, a elaboração de um quadro mental ou reação emocional à um determinado objeto, necessitaremos de um trabalho sistemático, contínuo e prolongado, no qual, isolamento, medo, a remoção emocional de toda afeição positiva em relação a ele e distância física, permitem a aquisição do modelo exclusivo que desejamos implantar. Os comportamentos que são expressos para se alcançar este ponto, geralmente começam com a interferência na comunicação entre criança e pai – não permitir ligações telefônicas para as crianças - tanto quanto contato físico - chegar tarde para visitas de contato, inventar doenças, compromissos, esquecimentos...

Esta interferência se estende a várias áreas – não informar o outro pai sobre atividades relevantes na evolução do desenvolvimento das crianças, como em atividades da escola, atividades culturais, eventos esportivos dos quais eles participam – tanto quanto assuntos de grande importância e relevância emocional – interceptar correspondência e outros itens enviados pelo pai e sua família próxima em ocasiões como aniversários, comunhões, etc. Mais tarde, ou paralelamente, inicia-se uma campanha de denegrir, insultar e atacar o pai na frente das crianças. Esta campanha continua aumentando de intensidade e ampliando os objetivos dos ataques –incluindo a desvalorização e o insulto à nova (o) companheira (o) do outro pai – enquanto o isolamento da criança é mantido com a intenção de obstruir o contato. Isto evita o outro pai de exercer seus direitos de contato – como também de intervir na vida da criança – “esquecendo” de informá-lo de compromissos relevantes que a criança tem com o dentista, o médico, o psicólogo, etc.

Lentamente a influência alienante do pai se estende às relações próximas da criança – envolvendo a família próxima, nesses casos de programação – e o pai começa a tomar decisões ‘chaves’, importantes, na vida da criança, sem consultar o outro – mudanças de escola, visitas a profissionais de saúde, cirurgias, etc.... No desejo de expulsar o pai alienado da vida da criança, o alienador atinge áreas como a acadêmica – evitando o acesso a relatórios e o conhecimento do progresso na escola – ou da vida no lar com o pai alienado – quando é dito para as crianças que as roupas que o outro comprou são feias e que elas não estão autorizadas a usá-las.

Quando o processo de alienação em relação a um dos pais permite a formação de autonomia de pensamentos em menores – quer dizer, o momento no qual a criança toma a iniciativa de odiar seu outro pai sem a necessidade de um adulto supervisor – os pais alienantes afirmam que não podem fazer nada para mudar as decisões de suas crianças, acostumando-se a oferecer uma imagem de desamparo na frente de um observador. No entanto, de formas sutis eles continuam a apoiar seus filhos na rejeição do outro pai, permitindo a eles escolher se querem ou não ir às visitas, dando-lhes direitos e responsabilidades que não são apropriadas para sua idade.

Isto é muito importante quando se trata de entender a atitude de assumida impotência e cooperação do pai alienante. Neste ponto é um procedimento normal das cortes, decidir usar a mediação da família, centros de contato ou psicoterapia clássica para parar com estes problemas. Em decorrência da mudança ocorrida na criança o alienador pode permitir a mudança radical da forma de pensar e de seu próprio comportamento externo, para um tipo que tenderá a se manifestar como uma atitude de impotência e conciliação.

A impotência demonstrada pela pressuposta incapacidade de fazer qualquer coisa quando confrontado com o desejo da criança de não ver o outro pai, surge face às justificativas e “excelentes razões” mostradas pela criança para não ver o pai ou a mãe odiado.

Devido à atitude conciliadora mostrada para o mundo externo, não há mais necessidade de usar argumentos amargos e ofensivos, razões sem significado ou argumentos tendenciosos. Isto porque agora é a criança que os utiliza, libertando o adulto desta necessidade e isto serve para confundir os psicólogos e assistentes sociais, que acabam por escrever relatórios errôneos quando não encontram motivos para as atitudes das crianças.

Ansiosos para responder às expressões e desejos das crianças em relação ao pai rejeitado, os profissionais produzem argumentos baseados no contato mais próximo do pai alienante com a criança, a incapacidade do pai rejeitado de responder às demandas de seus filhos ou então, e talvez esta seja a pior coisa, os profissionais justificam seus pontos de vista citando as supostas experiências negativas que as crianças tiveram com o pai rejeitado, dando respaldo para o que em várias situações são justificativas sem nenhuma base de realidade.



A LINGUAGEM DAS CRIANÇAS

Quando a PAS está presente, pode-se encontrar diferentes padrões em crianças que não são nada mais do que o reflexo dos critérios de identificação que são usados para diagnosticar a presença desta patologia. Com a intenção de facilitar a identificação desta síndrome para o leitor, apresentarei alguns exemplos que fui capaz de compilar na minha prática profissional.

Expressões de medo: “Não quero gostar de meu pai, estou com muito medo, estou com muito medo, não vou vê-lo outra vez”. “Não quero entrar no seu carro porque você com certeza deseja nos matar”. “Não quero comer sua comida, você quer nos envenenar”.

Expressões que refletem o processo de “objetivar” o pai alienado e conseguir distância emocional dele: “Não quero saber nada daquela pessoa” (falando sobre o pai alienado). “Se você não me der o que eu quero, eu vou à corte e vou dizer que você está abusando de mim (com sentido sexual)”. “Você não é minha mãe, a única coisa que eu quero saber de você é como eu posso pegar minha bicicleta que está na sua casa”.

Expressões que colocam o amor sentido pelo alienador (alienante) em um pedestal: “Se alguém me desrespeitar, meu pai pode enfrentá-lo e fazer o que quiser; porque meu pai é meu pai e eu tenho o direito de fazer o que ele quiser”. “Papai desculpa você e está permitindo que você venha e coma em nossa casa conosco; ele é bom”. “Ah, se você não tivesse nos abandonado!”.

Expressões de duplo sentido: “Com você eu sou mau e com papai eu não sou”. “Vovó é má porque mamãe diz que é; mamãe sempre diz a verdade”. “Minha mãe é má; meu pai diz isto; papai nunca mente para mim”.Expressões que denotam uma imersão no processo judicial e conhecimento inadequado (errôneo) adquirido: ”Em trinta de novembro vamos ver o juiz e ele vai levar minha opinião em consideração”. “Nós seremos amigos, mas não diga para a polícia outra vez que eu devo estar a 300 metros de papai, OK?” “Na próxima quarta-feira um juiz vai me perguntar:” O que você quer, como você vê isto, com quem você quer morar?” (No dia da audiência, primeira coisa pela manhã, uma mensagem para a mãe na secretária eletrônica) “É ... alô mamãe, bem ... não diga coisas más sobre papai na audiência, pare de dizer estas coisas para as pessoas e ficará tudo bem. OK? Por favor.”

Expressões contraditórias: “mamãe diz que você é mau, mas você é bom; eu devo me esconder debaixo da mesa porque mamãe diz que eu não posso sair com você”.“Mamãe você é escória, idiota, uma escória. Desculpe, desculpe...”

Expressões que demonstram identificação com os desejos e emoções do pai alienador: “Papai está se sentindo mal, você é culpada dele não ter dinheiro”.“Eu li um artigo no “Jornal Médico” que diz que crianças não podem comer “Kinder Ovo” ou sorvete, porque eles aumentam o colesterol.” “Você não deveria ter me colocado nas cortes e se você se comportar bem, no futuro nós perdoaremos você. Papai me disse, diga isto para sua mãe.”

Expressões em desacordo com a idade: “Eu não quero encontrar meu pai porque ele me maltrata psicologicamente de uma forma sistemática”.“O que? Você foi encontrar aquela escória?” “Não esqueça de pagar a pensão no banco da mamãe”.

Ataques indiretos: “Papai ia me levar a Disney World semana que vem, mas claro que como você insiste que é sua vez de ficar comigo!... Você é uma pessoa egoísta, meu pai está certo”.“Claro, já que você prefere ficar com seu namorado ao invés de ficar conosco”.“Eu perdôo meu pai porque no fundo ele não pode evitar ser uma pessoa irresponsável”.“Minha mãe diz que ela nunca vai falar mal de meu pai comigo, apesar de que ela tenha razões para fazer isso”.

Purificação emocional: “Eu deixo em casa os brinquedos que mamãe compra, porque senão meu pai joga todos fora.” “Antes nós íamos esquiar muitas vezes naquele lugar que mamãe gostava, mas papai não quer mais que a gente vá lá, ele diz que é onde os amigos de minha mãe vão.”



CONSEQUÊNCIA DA PAS NAS CRIANÇAS

Estudos realizados nas últimas décadas sobre as conseqüências do divórcio nas crianças têm demonstrado que estas crianças não mostraram necessariamente mais problemas do que crianças em “famílias nucleares”. A angústia e ansiedade pelas quais as crianças passam em todos os processos de separação e divórcio tendem a desaparecer a medida que elas retornam à rotina de suas vidas. É o grau do conflito e o envolvimento das crianças neste conflito, que determina o tipo e o nível de conseqüências da separação da família, na criança. (Aguilar, 2005). Existem poucas informações sobre os efeitos de médio e longo prazo da PAS em suas vítimas (Cartwright, 1993). Nos casos de famílias que passam pela PAS, o retorno à realidade acima descrito, pode levar anos ou nunca acontecer. Durante este tempo existe um desgaste emocional contínuo exercido pelos ataques do pai alienante e as ações defensivas do pai alienado. A estas, são acrescentados o processo judicial e os próprios problemas da criança – por exemplo, a adolescência – surgindo como parte de seu desenvolvimento em processo. A sucessão de testes, nas mãos de vários profissionais, o repetido envolvimento em episódios como parte da campanha de acusações, e as contínuas mensagens de ódio em relação ao outro pai, enche o tempo e a vida emocional das crianças.

Uma variável que vai determinar as futuras conseqüências nas crianças é o conjunto de estratégias que o alienador usa com elas no processo de doutrinação. Uma estratégia freqüente é o uso de falsas acusações e queixas de abuso sexual.

Este problema já foi avaliado em meados dos anos oitenta nos Estados Unidos. Um estudo feito pela Unidade de Pesquisa da Associação das Cortes de Família e Conciliação daquela época sugeriu que acusações de abuso sexual nos processos de divórcio deveriam provavelmente ser válidos em apenas 50% dos casos. O problema continuou a ser apresentado até que em 1966 o Congresso Americano criou uma ‘emenda de lei’ eliminando a impunidade que fora previamente utilizada por aqueles que faziam falsas alegações de abuso sexual, permitindo posteriormente a cada estado, estabelecer regras de iniciativa legais para responder à situação. Em nosso país, um número de vozes, incluindo a do judiciário, tem se levantado contra esta situação, sem que nenhuma ação tenha ainda sido tomada. O uso desta estratégia pode ser terrivelmente destrutivo para a criança, e marcará uma diferença no comportamento futuro e nas circunstâncias.

Talvez o problema de maior pressão para estas crianças é o de que sua relação com um de seus pais está destruída. A perda de uma destas figuras parentais precisa ser quantificada em termos de perda de interações do dia a dia, de oportunidades de aprendizagem, de apoio e de afeição que normalmente flui através de pais e avós. Considerando que em caso de morte, a perda é inevitável, no caso de PAS é tão evitável como é imperdoável (Cartwright, 1993).

Na área da psicologia o desenvolvimento da autoconsciência e da auto -estima são notadamente afetados, e são deficiências que contribuem para muitos outros problemas neste nível. A criança aprende a manipular e a ser valorizada ao nível em que a lealdade em relação aos preceitos do pai alienante é demonstrada. Os efeitos da PAS sobre as crianças podem ser irreparáveis. A infidelidade emocional da criança para com o pai alienante pode resultar em punições cuja severidade alcança um amplo espectro. Chantagem, ausência de afeto ou punição física são normalmente constantes. Se imaginarmos um pai alienante cujas ilusões paranóicas são expressas de forma explosiva, seria necessário admitir a possibilidade de um sério risco para a integridade física da criança. Em minha experiência profissional, descobri um caso de suicídio relacionado com PAS.

Em resumo, devemos considerar que estamos falando de um tipo de abuso emocional com amplas e profundas conseqüências para as crianças e seus parentes próximos. Acima das diferenças surgidas entre dois adultos, os comportamentos que registramos são responsáveis pela ruptura de ligações emocionais de crianças com parte de sua família, o que causa um desnecessário empobrecimento, assim como a exposição a cenas que leva a ao aumento da probabilidade de desenvolver diversos problemas.

Finalmente, devemos reconhecer que estamos falando da introdução (apresentação) em um assunto sobre idéias, crenças e valores que são altamente perniciosos para o desenvolvimento pessoal da criança e de sua visão do mundo, idéias que organizarão sua futura conduta e a forma com a qual ela enfrentará sua vida.



ABORDAGEM LEGAL DA PAS


O hábito normal nas cortes de família no momento do julgamento e de decidir as medidas a serem adotadas é o de manter o “status quo”, com uma resistência teimosa em relação ao ponto em que decisões são tomadas para fazer mudanças significativas na situação das crianças.

Isto pressupõe um extraordinário erro por parte dos juízes, considerando que esta se torna a arma principal do pai alienante quando se trata de continuar a campanha de difamação, assim como em relação à criança, que mantém sua agressão em relação ao pai alienado, já que a campanha de agressão, inicialmente provocada pelo pai alienante passa a ser assumida pela criança.

Minhas recomendações fundamentais são de que, levando em conta a classificação (leve, moderada e forte) do diagnóstico de PAS, certas decisões devem ser tomadas cuja inevitabilidade envolve uma mudança substancial no que tem sido considerado possível até o momento. A experiência através da observação parece conduzir nesta direção.Clawar e Rivlin, responsáveis pelo maior estudo realizado sobre este problema, comentam que dentre os quatrocentos casos observados em seus estudos, aqueles em que a corte decidiu aumentar o contato com o pai alienado, aconteceu uma mudança positiva em 90% dos relacionamentos das crianças com estes pais. Esta mudança incluiu a eliminação ou a redução de problemas psicológicos, físicos e educacionais existentes antes desta intercessão. É realmente significante que metade destas decisões foram tomadas mesmo quando iam contra os desejos das crianças (Clawar & Rivlin).

Outro estudo inclui dezesseis casos de PAS, diagnosticadas como moderadas ou severas. Em três estes casos a corte decidiu por uma mudança de custódia e/ ou limitações de contato com o pai alienante. Nestes três casos a PAS foi eliminada. Nos outros treze, aqueles em que a corte manteve o regime de custódia e não limitou o contato, foi decidida a realização de intervenção psicológica. Nenhuma das crianças neste último grupo mostrou qualquer melhora em relação à alienação. (Dunne & Hedrick,1994).

Em minha experiência profissional com um grupo de estudo de quinze casos de PAS, diagnosticados como sendo dos tipos moderados e fortes, nos quais alguma forma de terapia psicológica tradicional foi recomendada pela corte, nenhum melhorou de sua alienação em face ao pai odiado e aqueles que haviam sido incluídos no nível moderado, após terminar a terapia, todos passaram a desenvolver o tipo forte.

Mais uma vez, torna-se necessário lembrar que uma precisa série de condições é necessária para o desenvolvimento da PAS. A que talvez seja mais relevante é a geração de uma distância em termos de tempo e espaço entre a criança e o pai alienado, de modo que é impossível contrastar, e através disto, poder contradizer pela experiência direta, o programa de medo e ódio inculcado na criança.

Segue-se então a expressão de padrões de comportamento (interferência nas comunicações, não informação sobre a situação escolar, de saúde, e assuntos sociais, etc., estórias de indução de culpa, acusações negativas, reforço implícito da rejeição expressa pela criança em relação ao pai alienado), que favorecem a internalizarão de sentimentos negativos contra o pai alienado. A manutenção de circunstâncias que tornaram possível a manifestação de tais comportamentos não é nem maior nem menor do que a expressiva facilitação de sua prática. PAS é um excelente exemplo de uma desordem na qual profissionais de saúde mental e a corte devem trabalhar juntos para ajudar estas crianças. Nenhuma das disciplinas pode ajudar estas crianças sem a significante participação da outra. (Gardner, 2001). Este é sem dúvida o maior obstáculo (a pedra no caminho) que eu encontrei em minha prática profissional nas cortes. Se um profissional faz uma série de recomendações e estas não são consideradas, é simplesmente impossível o sucesso do tratamento deste problema. Recentemente, uma sentença feita pela Corte Provincial de Segóvia, registro nº 113/2005, coloca em linguagem clara seu apoio ao procedimento de testes realizados por psicólogo, em uma questão em que a presença de PAS estava sendo considerada, “sem obstruções de nenhum tipo por nenhuma das partes envolvidas; e igualmente, sendo possível contar com o auxílio ou a colaboração daqueles colegas profissionais ao ser considerado necessário e se necessário incluir a avaliação dos pais, com notificação e autorização do juiz”. Infelizmente este apoio é raro na imensa maioria dos casos em que este problema é testemunhado em nosso país.

Por outro lado, se atrasos ilegais do processo são permitidos, consolidando e mantendo a distância entre o pai e seu filho, os pilares básicos sobre os quais a patologia é criada são facilitados. Em nosso país, tenho registros de casos nos quais os pais acumularam trezentas e cinqüenta queixas, ou arquivos de caso em que vinte e um profissionais – psicólogos e psiquiatras – com as declarações correspondentes de testemunhas qualificadas, tomaram parte permitindo o prolongamento deste caso durante anos, e conseqüentemente a eliminação de fato, de um dos pais da vida de seus filhos.

Iniciei este artigo expondo um problema que é uma ocorrência diária nas cortes. Então passamos à definição do problema, a consideração de sua propagação e a forma como é expressa na criança. Eu encerro com as diretrizes que devem ser consideradas se desejamos deter este problema. Até hoje mais de vinte julgamentos no circuito regional mencionaram PAS na Espanha. Diferente de outros países como os Estados Unidos – que tem a sua disposição medidas legais para considera este problema, ou a cidade do México – que incluiu em sua última reforma do Código Civil em setembro de 2004 – a Espanha está apenas começando a considerar PAS com um sério problema que está começando a ser estudado, e a ignorância dos profissionais pode ser o maior quando enfrentam esta realidade. Uma realidade em que a inércia, ou o consentimento velado, anualmente nos leva a deixar milhares de vítimas cruzando nosso caminho com este tipo de abuso, que passa quase sem ser reconhecido à nível técnico pelos profissionais da área legal.



José Manuel Aguilar Cuenca. Psicólogo - Espanha

Traduzido para o inglês por Julian Fitzgerald

Traduzido para o português por Cristina Federici



i Ekman, P. (1985) Cómo detectar mentiras. Barcelona, Ed. Paidós.

ii Aguilar, J.M. (2004) SAP. Síndrome de Alienación Parental. Ed. Almuzara. Córdoba.

iii Gardner, R. (1995) Recent trends in divorce and custody litigation. Academy

Forum, 29:2:3-7

iv Wallerstein, J.S. & Kelly, J.B. (1980) Surviving the breakup: how children and

parents cope with divorce. New York, Basic Books.

v Jacobs, J.W. (1988) Euripides' Medea: a psychodynamic model of severe divorce

pathology. American Journal of Psychotherapy; XLII:2:308-319

vi Blush, G.J. & Ross, K.L. (1986) Sexual allegations in divorce: the SAID syndrome.

Conciliation Courts Review 1987; 25:1:1-11

vii Turkat (1994) Child visitation interference in divorce. Clinical Psychology Review,

14:8:737-742.

viii Aguilar, J. M. (2005) Con mamá y con papá. Ed. Almuzara. Córdoba.

ix Cartwright, G.F. (1993). Expanding the parameters of Parental Alienation

Syndrome, American Journal of Family Therapy, 21 (3), 205-215.

x Thoennes, N. & Tjaden, P.G. (1990). The extent, nature, and validity of sexual

abuse allegations in custody visitation disputes. Child Abuse & Neglect; 12:151-63

xi Clawar, S.S. & Rivlin, B.V. (1991) Children Held Hostage: Dealing with

Programmed and Brainwashed Children. Chicago, Illinois, American Bar Association,

(p. 150)

xii Dunne, J. & Hedrick, M. (1994). The parental alienation syndrome: an analysis of

sixteen selected cases. Journal of Divorce and Remarriage, 21(3/4):21-38.

xiii Gardner, R. (2001). Should Courts Order PAS Children to Visit/Reside with the

Alienated Parent? A Follow-up Study; The American Journal of Forensic Psychology,

19(3):61-106.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Porque os pais também são importantes

Early Childhood Matters: Fathers Matter Too

Infância e Espaço Público - Ciclo de Conferências em Sociologia da Infância

Infância e Espaço Público - Ciclo de Conferências em Sociologia da Infância

Auditório do Centro Multimédia IEC/IEP/ICS às 17 horas, entre quinta-feira, 30-10-2008 e quinta-feira, 04-06-2009

O Ciclo de Conferências em Sociologia da Infância é uma iniciativa do Instituto de Estudos da Criança em colaboração com o Instituto de Ciências Sociais que se realizará durante o ano lectivo de 2008-2009, no Auditório do Centro Multimédia da Universidade do Minho às 17 horas. Entrada livre.

O Ciclo de Conferências em Sociologia da Infância é uma iniciativa do Instituto de Estudos da Criança em colaboração com o Instituto de Ciências Sociais que se realizará durante o ano lectivo de 2008-2009, no Auditório do Centro Multimédia da Universidade do Minho às 17 horas. Entrada livre.

Com este Ciclo de Conferências pretende-se prosseguir a tradição de apresentação, partilha e discussão de questões teóricas e metodológicas relativas à Investigação na área da Sociologia da Infância.

Programa



30 Outubro, 2008
Anália Torres
Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa
Departamento de Sociologia
"Protecção de Crianças e Políticas Públicas."



Anália Torres é Professora Associada do ISCTE. É vice-presidente da European Sociological Association (ESA) e foi presidente da Associação Portuguesa de Sociologia (APS).

Especialista em Sociologia da Família, coordenou recentemente o grupo de trabalho nacional (com presença do IEC da Universidade do Minho) que realizou a avaliação das Comissões de Protecção das Crianças e Jovens, cujo Relatório final se encontra no endereço seguinte: http://www.cnpcjr.pt/

A análise das políticas públicas para a infância constitui-se como o objecto desta conferência, considerando a investigação recentemente concluída, já referida e, olhando, a partir de uma perspectiva sociológica, o lugar da infância na sociedade portuguesa contemporânea.

18 de Dezembro, 2008
João Teixeira Lopes
Universidade do Porto
Faculdade de Letras
"Espaço Público e Gerações."


15 de Janeiro, 2009
Virginia Morrow
Universidade de Londres - Inglaterra
Instituto de Educação
"Methods and ethics of research with children about their environments."

Virgínia Morrow é Professora no Instituto de Educação da Universidade de Londres. Coordena o Master em Sociologia da Infância e direitos da Criança e é Co-Editora da Revista Childhood. Especialista em Sociologia da Infância, com contributos bastantes significativos, quer no plano teórico onde discute questões relacionadas com as condições e exercício dos direitos da criança, quer no plano metodológico onde tem discutido questões de ética e métodos de pesquisa com crianças

A conferência apresentada pela Prof. Virginia Morrow discute Métodos e Ética na Pesquisa com crianças e jovens acerca dos seus contextos de vida através da apresentação de alguns dos últimos trabalhos de investigação desenvolvidos pela autora.
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12 de Fevereiro, 2009
Rita Marchi
Universidade Regional de Blumenau
Santa Catarina, Brasil
"Radicalizaçao do processo histórico de individualização das crianças e a crise social da infância."

Este texto relaciona o processo moderno de individualização ? referido aos aspectos subjetivos e biográficos do processo de civilização - à construção social da infância. A hipótese é a de que testemunhamos atualmente as ?conseqüências? do processo de individualização das crianças: a radicalização/agudização deste processo (na nova visão da criança como um ?sujeito de direitos?) pode estar a provocar na sociedade a idéia de uma ?crise social? da infância. Uma crise que acontece no nível das representações e que aponta para o fato de que as ?velhas idéias sobre a infância? já não parecem adequadas na atualidade ou que o ?lugar? da criança já não é o mesmo de antes. Mas do que é que trata esta ?crise?? Que indícios ou evidências temos de sua existência? Ou da sensação de sua existência? Como os diversos analistas a compreendem? Este texto trata de como esta ?crise social? vem sendo debatida no interior da Sociologia da Infância e de como esta questão pode ter outra interpretação se relacionada à infância pobre no Brasil.

Texto completo»»
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12 de Março, 2009
Ivan Pascual Rodríguez
Universidade de Huelva, Espanha
Departamento de Sociologia e Trabalho Social
"La mirada sociológica: una aproximación nueva al mundo de la infancia?"


2 de Abril, 2009
Allison James
Universidade de Sheffield, Inglaterra
Centro de Estudos da Infância e Juventude
"New challenges of Childhood Studies."

14 de Maio, 2009
Giangi Schibotto
Universidade Alma Mater de Bolonha, Itália
Faculdade de Ciências da Educação
"El complejo camino de construcción de un espacio público para la participación, la actoría social y el protagonismo de la infancia y adolescencia."


4 de Junho, 2009
Julie Delalande
Universidade da Baixa Normandia - Caen, França
Departamento de Ciências da Educaçao
"Les lieux des enfants."




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Profª Natália Fernandes
email: natfs@iec.uminho.pt