segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Estudo da FMUP demonstra: negligência é a maior causa da vitimação infantil

Estudo da FMUP demonstra: negligência é a maior causa da vitimação infantil

Tese de Psiquiatria e Saúde Mental

Um estudo apresentado na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) pela investigadora Patrícia Rodrigues revela que a negligência é o principal motivo de sinalização de crianças e jovens nas Comissões de Protecção de Crianças e Jovens em Risco. Estas situações de negligência poderão relacionar-se, entre outros aspectos, com o facto de parte das mulheres e dos homens não possuírem a maturidade necessária para assumirem o papel parental.

A investigação debruçou-se sobre uma amostra de 60 crianças entre os 6 e os 16 anos de idade, provenientes de 5 Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) em risco do norte do país.

Os resultados demonstraram que quando existe um arranjo social e demográfico desfavorável, que implique dificuldades diárias por parte das famílias, como o desemprego e o isolamento social, propicia-se a emergência da violência e hostilidade face aos menores que se tornam um "escape" dos problemas pessoais dos pais. Segundo Patrícia Rodrigues, "as situações de maus-tratos ocorrem, na sua maioria em famílias com rendimento familiar mensal baixo (até 300€) e que habitam em meios rurais, o que não significa que a vitimação também não ocorra nos meios urbanos".

Uma novidade deste estudo, que vai contra a literatura, é que a violência não é maior em famílias numerosas. A configuração familiar actual é mais reduzida devido a factores como a falta de disponibilidade parental, motivos económicos, procriação tardia e aumento de famílias monoparentais.

Importa ainda salientar que os maus-tratos ocorrem mais nos meninos e por parte de ambos pais, enquanto que os maus-tratos contra meninas tendem a ocorrer por um ou outro progenitor, considerados isoladamente. Este dado indica que existem diferenças nas práticas educativas e relacionais que envolvem uma maior protecção das meninas.

O estudo revela, também, que existe uma maior incidência de maus-tratos no período etário entre os 6 e os 13 anos de idade, que coincide com a entrada das crianças na escola (o que exige mudanças na rotina familiar e disponibilidade parental para acompanhar a vida escolar dos filhos) e com o período da pré-adolescência (marcada por profundas alterações biológicas, psicológicas, sociais e cognitivas). "Famílias com baixa tolerância ao stress e com fraco investimento emocional parecem não entender este período de maior expressividade e inquietude", refere a autora.

CL

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