quinta-feira, 19 de março de 2009

Depressão pós-parto afecta um em sete pais

Depressão pós-parto afecta um em sete pais

Afastamento da companheira e tipo de profissão são factores de risco

00h30m

HELENA NORTE

Um em cada sete pais sofre de depressão pós-parto, prejudicando não só os cuidados que presta ao bebé como a qualidade da relação do casal. No Dia do Pai, o enfoque para um problema que se julgava exclusivo das mães.

Uma investigação realizada em Portugal demonstra que sofre mais quem é pai pela primeira vez, não tem rede de apoio e é alvo de pressões profissionais que dificultam o desempenho das tarefas parentais.

O estudo realizado pelo enfermeiro Aldiro Magano no Hospital S. Sebastião (Feira) comprova que a realidade portuguesa não destoa da tendência já documentada na investigação internacional: 15% dos homens apresentam sintomatologia depressiva após o nascimento de um filho. O que se julgava ser de natureza biológica e exclusivo do sexo feminino - a depressão pós-parto como consequência das oscilações hormonais no período puerperal - é, afinal, um fenómeno também vivido no masculino e que decorre de causas muito diversas.

A depressão pós-parto nas mães pode levar, nos quadros mais severos, a situações de negligência e abandono do filho. Embora não haja estudos conclusivos sobre os feitos da depressão no pai, sabe-se que prejudica os cuidados com que presta ao bebé e afecta significativamente o equilíbrio da mãe. "Se estiverem presentes outros factores de risco, a depressão do companheiro pode agravar a situação. É importante detectar precocemente estes casos", explica Mónica Fernandes, da Consulta de Psicologia da Maternidade Júlio Dinis, Porto.

Os sinais revelam-se, em regra, mês e meio depois do parto. É nessa altura que os pais começam a ressentir-se do cansaço, das mudanças na rotina e da falta de disponibilidade da mulher, explica Aldiro Magano. "Antes, não são relatadas grandes alterações na relação conjugal, mas, depois das seis semanas, começam a surgir queixas com a sobrecarga de tarefas domésticas e familiares e a falta de proximidade física com a esposa", acrescenta o enfermeiro.

As primeiras quatro a seis semanas são, aliás, uma fase crítica também para as mulheres. "É um período de adaptação, em que a mãe está a estabelecer uma relação de vinculação com o bebé. É natural que tenha menos disponibilidade para tudo o que não esteja directamente relacionado com o filho", sublinha a psicóloga.

As alterações hormonais, o cansaço pelas frequentes amamentações e restantes cuidados ao bebé, assim como a própria recuperação do parto (mais complicada quando houve cesariana), diminuem a libido e prejudicam a interacção com o companheiro.

O tipo de profissão parece ser também um factor de risco para o desenvolvimento de depressão pós-parto nos homens. O estudo de Aldiro Magano revelou que os pais com actividades profissionais mais diferenciadas e exigentes apresentam mais sinais de ansiedade, tristeza, cansaço, desconcentração, o que pode ser explicado pela maior dificuldade em conciliar o trabalho com a família.

Além da actividade profissional, a idade é outra variável directamente relacionada com esta problemática. Os homens mais jovens lidam pior com a paternidade, principalmente, quando a gravidez não foi planeada.

A boa notícia é que, embora possa manter-se durante 12 meses, a depressão pós-parto tende a suavizar com o tempo e, na maioria dos casos, desaparece completamente. O follow-up aos casais estudados por Aldiro Magano demonstra que os níveis de depressão diminuíram significativamente.


Fonte: JN


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