Há mais homens do que mulheres a voltar a "dar o nó"
14.04.2008 - 09h06 Bárbara Simões
A percentagem de casamentos em que pelo menos um dos envolvidos já tinha sido casado anteriormente duplicou entre 1990 e 2006 - de 10,5 por cento passou para 20,6 por cento (uma em cada cinco) do total de uniões celebradas.
Quando divulgou os seus números mais recentes, o Instituto Nacional de Estatística (INE) sublinhou a "importância crescente" deste tipo de nupcialidade. E um estudo sobre as tendências actuais deste fenómeno demográfico começa por realçar a "visibilidade estatística" por ele adquirida "num palco de mudanças cruzadas entre os vários sectores da sociedade portuguesa".
O trabalho, publicado no último número da Revista de Estudos Demográficos, centrou-se na análise quantitativa do recasamento, com base nas estatísticas demográficas entre 2001 e 2005. Identificou várias constantes: os homens voltam a casar-se com mais frequência do que as mulheres; os divorciados fazem-no muito mais do que os viúvos; os jovens "revelam uma muito maior propensão para entrar numa nova relação conjugal".
Quando se comparam as características dos indivíduos envolvidos num recasamento com as dos que se unem quando ambos são solteiros, verifica-se que os primeiros são tendencialmente mais velhos e na maior parte dos casos viveram juntos antes de formalizar o casamento. Têm muito frequentemente filhos de relações anteriores e menos filhos em comum, "mas em ambos os casos sempre com valores muito superiores aos encontrados nos cônjuges do primeiro casamento". O matrimónio católico é menos habitual e as habilitações literárias são "geralmente mais baixas" que as dos casados pela primeira vez.
Durante o período analisado pelas investigadoras do ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa), o casamento entre duas pessoas em que pelo menos uma delas já tinha sido casada anteriormente subiu de 14,4 para 18,8 por cento. "Este crescimento fica a dever-se essencialmente ao casamento de divorciados - realidade que nas mulheres passa de 7,5 por cento em 2001 para 10,7 por cento em 2005 e nos homens de 9,3 por cento para 12,5 por cento", lê-se no estudo O recasamento: tendências actuais.
Em contrapartida, era bem reduzida a percentagem de viúvos no conjunto dos portugueses que se tinham casado (0,9 por cento nas mulheres e 1,5 nos homens, em 2005). No conjunto, a idade média ao recasamento era de 43 anos para os homens e 38 para as mulheres.
Uniões de facto
O que introduz a maior novidade neste panorama é mesmo a associação ao divórcio, confirma a socióloga Cristina Lobo, professora do ISCTE e investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia e uma das autoras do trabalho. "Os recasamentos, que estão a aumentar na sociedade portuguesa, sempre existiram" (até a Gata Borralheira tinha uma madrasta, lembra). Mas agora o pano de fundo é completamente diferente.
Em 2006, houve 48 divórcios por cada 100 casamentos celebrados. Os primeiros sobem, os segundos descem sempre. E "o aumento dos recasamentos decorre de efeitos de estrutura (composição), isto é, o aumento do divórcio faz crescer o número de divorciados e mesmo com uma diminuição das suas taxas de recasamento o crescimento desta subpopulação é suficiente para fazer aumentar o número de recasamentos", ressalva o estudo.
Ou seja, o aumento da proporção de casamentos em que pelo menos um dos cônjuges já não era solteiro não traduz uma maior tendência para divorciados e viúvos voltarem a casar-se - as uniões de facto, enquanto "modo alternativo de viver em conjugalidade a seguir a um divórcio" registam aliás um crescimento "fortíssimo".
Nos recasamentos, as uniões entre homens divorciados com filhos do primeiro casamento e mulheres solteiras mais novas e sem filhos são as que predominam. "Por que é que acontece? Os homens ainda hoje têm uma certa tendência para entrar rapidamente numa nova conjugalidade, a seguir a uma ruptura", lembra Cristina Lobo. As mulheres "ficam muitas vezes um pouco mais tempo sem o fazer, independentemente de haver ou não filhos".
Uma parte do números de recasamentos corresponde ainda a uniões de facto que, ao fim de algum tempo, passaram a casamento. Quando preparava a sua tese de doutoramento - sobre recomposições familiares - Cristina Lobo entrevistou vários casais nesta situação. "Dizem por exemplo que, por uma série de razões - patrimoniais, até de doença - ao fim de uns 10 anos de segunda coabitação vieram a casar, sem dar grande importância ao acto. Muitas vezes até têm dificuldade em saber quando é que foi..."
Quando divulgou os seus números mais recentes, o Instituto Nacional de Estatística (INE) sublinhou a "importância crescente" deste tipo de nupcialidade. E um estudo sobre as tendências actuais deste fenómeno demográfico começa por realçar a "visibilidade estatística" por ele adquirida "num palco de mudanças cruzadas entre os vários sectores da sociedade portuguesa".
O trabalho, publicado no último número da Revista de Estudos Demográficos, centrou-se na análise quantitativa do recasamento, com base nas estatísticas demográficas entre 2001 e 2005. Identificou várias constantes: os homens voltam a casar-se com mais frequência do que as mulheres; os divorciados fazem-no muito mais do que os viúvos; os jovens "revelam uma muito maior propensão para entrar numa nova relação conjugal".
Quando se comparam as características dos indivíduos envolvidos num recasamento com as dos que se unem quando ambos são solteiros, verifica-se que os primeiros são tendencialmente mais velhos e na maior parte dos casos viveram juntos antes de formalizar o casamento. Têm muito frequentemente filhos de relações anteriores e menos filhos em comum, "mas em ambos os casos sempre com valores muito superiores aos encontrados nos cônjuges do primeiro casamento". O matrimónio católico é menos habitual e as habilitações literárias são "geralmente mais baixas" que as dos casados pela primeira vez.
Durante o período analisado pelas investigadoras do ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa), o casamento entre duas pessoas em que pelo menos uma delas já tinha sido casada anteriormente subiu de 14,4 para 18,8 por cento. "Este crescimento fica a dever-se essencialmente ao casamento de divorciados - realidade que nas mulheres passa de 7,5 por cento em 2001 para 10,7 por cento em 2005 e nos homens de 9,3 por cento para 12,5 por cento", lê-se no estudo O recasamento: tendências actuais.
Em contrapartida, era bem reduzida a percentagem de viúvos no conjunto dos portugueses que se tinham casado (0,9 por cento nas mulheres e 1,5 nos homens, em 2005). No conjunto, a idade média ao recasamento era de 43 anos para os homens e 38 para as mulheres.
Uniões de facto
O que introduz a maior novidade neste panorama é mesmo a associação ao divórcio, confirma a socióloga Cristina Lobo, professora do ISCTE e investigadora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia e uma das autoras do trabalho. "Os recasamentos, que estão a aumentar na sociedade portuguesa, sempre existiram" (até a Gata Borralheira tinha uma madrasta, lembra). Mas agora o pano de fundo é completamente diferente.
Em 2006, houve 48 divórcios por cada 100 casamentos celebrados. Os primeiros sobem, os segundos descem sempre. E "o aumento dos recasamentos decorre de efeitos de estrutura (composição), isto é, o aumento do divórcio faz crescer o número de divorciados e mesmo com uma diminuição das suas taxas de recasamento o crescimento desta subpopulação é suficiente para fazer aumentar o número de recasamentos", ressalva o estudo.
Ou seja, o aumento da proporção de casamentos em que pelo menos um dos cônjuges já não era solteiro não traduz uma maior tendência para divorciados e viúvos voltarem a casar-se - as uniões de facto, enquanto "modo alternativo de viver em conjugalidade a seguir a um divórcio" registam aliás um crescimento "fortíssimo".
Nos recasamentos, as uniões entre homens divorciados com filhos do primeiro casamento e mulheres solteiras mais novas e sem filhos são as que predominam. "Por que é que acontece? Os homens ainda hoje têm uma certa tendência para entrar rapidamente numa nova conjugalidade, a seguir a uma ruptura", lembra Cristina Lobo. As mulheres "ficam muitas vezes um pouco mais tempo sem o fazer, independentemente de haver ou não filhos".
Uma parte do números de recasamentos corresponde ainda a uniões de facto que, ao fim de algum tempo, passaram a casamento. Quando preparava a sua tese de doutoramento - sobre recomposições familiares - Cristina Lobo entrevistou vários casais nesta situação. "Dizem por exemplo que, por uma série de razões - patrimoniais, até de doença - ao fim de uns 10 anos de segunda coabitação vieram a casar, sem dar grande importância ao acto. Muitas vezes até têm dificuldade em saber quando é que foi..."
Sem comentários:
Enviar um comentário